sábado, 8 de julho de 2006

A luta pela sobrevivencia

Não meus amigos, a luta é mesmo pela sobrevivencia. A terra é somente um meio para conseguir sobreviver, pois viver, felicidade e qualidade de vida são coisas que estas pessoas ainda não sabem do que se trata.

Após 2 horas de onibus, meia hora de transporte clandestino e 2 horas e meia andando, cheguei no Assentamento Menino Jesus no municipio de Água fria (próximo a Irará).
Fui, imaginando que ao chegar lá poderia ensinar, somente ensinar. Quanta prepotência de nós, universitários. Ainda nos surpreendemos quando aprendemos muito com pessoas ditas "ignorantes". Fui, imaginando que como estudante de engenharia sanitária eu poderia mudar a realidade do assentamento e, na verdade, só quem pode mudar a realidade das nossas vidas somos nós mesmos.

Fui hospedado, ou melhor, "adotado", por uma senhor chamado "Seu Manuel", para os mais próximos "Manuca".Homem de poucas palavras, olhos sofridos mas esperançosos. Uma das 30 casas de tijolo do assentamentos, pertencia a seu Manuel que ali estava há 8 anos, desde quando ainda era acampamento( sem a posse da terra). Casa simples, sem água encanada, e sem ESGOTO, como todas as 30 casas do assentamento e os 82 barracões de "lona preta", onde não existem blocos, nem cimento,muito menos uma privada para fazer as necessidades fisiológicas, onde muitos moram há mais de 10 anos e já perderam a referência de casa, e a referência de humanidade. Pois, quando o homem perde a casa, defeca no mato e dorme num chão de terra, nada mais o separa de um cachorro, de um animal qualquer tanto no modo de viver, no jeito como a sociedade o trata quanto no jeito que relaciona-se com os seus familiares e companheiros de luta pela sobrevivência.

Seu manuel, no fundo de sua casa possuía tudo o que precisava para viver, duas carabinas para caçar, plantações de feijão, arroz, maracujá, mais de 30 tipos de frutas diferentes, mais de10 tipos de grãos diferentes. De manga a amendoin, de samambaia a pau-brasil. Tudo sem agrotóxicos, sem ajuda de ninguém, sem ajuda do governo. Tudo do próprio suor. Ao lado de sua casa, um quadrado improvisado de eternit, onde possuía uma privada de cócoras, e um bujão onde se colocava água para tomar banho. Dentro de sua casa(que era um galpão onde se guardava os agrotóxicos usados na antiga fazenda produtora de eucalipto, um fogão a lenha que exalava por todo o vão fumaça preta, e como a casa não possuia divisórias, dormiamos sobre esta fumaça. Passei mal na primeira noite.

Seu Manuel é o responsável pela questão da água no assentamento. É ele que liga e desliga a bomba d’agua, regulando o consumo. Em sua casa/galpão encontram-se milhares de metros de mangueiras de irrigação que estão à espera da liberação do projeto de plantio do governo federal. “Seu Manuel” não é somente um homem rural. O fato de vir muito a cidade e possuir família por aqui fazem com que tenha costumes e educação urbanas. Nascido no Rio Grande do Norte, com sotaque carregado, Manuel, homem de poucas risadas e palavras, mas muito receptivo, seu Manuel é um dos líderes do assentamento.


NR: Nethompson é aluno da UfBA e a viajem ao acampamento é fruto dos trabalhos de uma Atividade Curricular em Comunidade (ACC). Ele continuará fazendo as suas recordações da viagem, ilustrando-as, inclusive, com fotos tiradas no local.

3 comentários:

Anônimo disse...

muito bom este relato de viagem......
só acho q as fotos do local devem constar na matéria tb!

Diego Mascarenhas disse...

parabéns pelo texto evaristo.
estou aguardando mais relatos sobre a viagem...

vivemos nesse mundinho super protegido e não sabemos o que acontece pelo mundo.
muito legal essa experiência da ACC. espero que tenha aproveitado e aprendido muito bem esses momentos.

por que esse brasil é tão desgraçado, hein???
pátria que me pariu........

Anônimo disse...

Essa matéria é muito boa, deveria está em todos os veículos de comunicação para mostrar a realidade do nosso BRASIL!!!!!